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CICLO MENSTRUAL DAS CADELAS E A SUA INFLUÊNCIA COMPORTAMENTAL

Tal como a primavera anuncia novos começos na natureza, o ciclo de uma cadela assinala uma fase de prontidão reprodutiva e complexidade biológica.

Para celebrar esta estação trago-vos um tema que gera sempre curiosidade e preocupação entre os tutores: O ciclo menstrual das cadelas e a sua influência comportamental.


O ciclo nas cadelas é marcado por fases e comportamentos distintos, normalmente ocorre pela primeira vez entre os cinco e oito meses de idade, embora possa variar com base na raça e em factores individuais. É essencial que os tutores reconheçam e compreendam estas fases para prestarem os devidos cuidados e a gestão adequada.


O cio consiste em quatro fases: proestro, estro, diestro e anestro. 

O proestro marca o início do ciclo e é caracterizado por alterações físicas e comportamentais, incluindo o inchaço da vulva e a libertação de feromonas para atrair os machos. Esta fase dura normalmente cerca de 7 a 10 dias, durante os quais a cadela ainda não está receptiva ao acasalamento.

A fase seguinte, o estro, é o período em que a cadela está receptiva a machos. Esta fase dura por norma entre 5 a 9 dias, embora possa variar consoante os indivíduos. Durante o estro, a vulva pode parecer mais macia e mais inchada, e pode haver um corrimento que varia de claro a sangrento.

Por volta da terceira semana do ciclo começa o diestro, um período de repouso reprodutivo, caso a cadela não tenha acasalado, regressa a um estado não-receptivo e os níveis hormonais começam a diminuir. O diestro dura normalmente cerca de 60 a 90 dias.

Por último, o anestro é a fase do ciclo em que a cadela não está no cio e não é fértil. Esta fase pode durar vários meses (6 a 8 meses) e serve como um período de repouso antes de o ciclo recomeçar.




Proestro



Alterações fisiológicas:

  • Inchaço da vulva: Um dos sinais mais visíveis do proestro é o inchaço da vulva, que se torna maior e mais macia ao toque. Este inchaço é o resultado do aumento do fluxo sanguíneo para a área, indicando o início do ciclo reprodutivo.
  • Corrimento vaginal: Durante o proestro, as cadelas também podem apresentar um corrimento vaginal com sangue ou cor de palha. Este corrimento, que pode variar em quantidade e consistência, é uma mistura de sangue, revestimento uterino e outros fluidos, serve para lubrificar o trato reprodutivo e pode ajudar a atrair potenciais parceiros.
  • Níveis hormonais elevados: As alterações hormonais desempenham um papel crucial nesta fase. Os níveis de estrogénio começam a subir, desencadeando as alterações físicas e comportamentais associadas ao cio.


Alterações comportamentais:

  • Aumento da micção (poliúria): As cadelas em proestro podem urinar com mais frequência do que o habitual, muitas vezes em pequenas quantidades, uma vez que marcam o seu território com feromonas para atrair potenciais parceiros.
  • Atratividade para os machos: Embora ainda não estejam receptivas ao acasalamento, emitem feromonas que indicam que estão a ficar férteis, o que atrai os machos, que podem demonstrar um interesse acrescido na fêmea.
  • Inquietação ou impulsividade: Mudanças comportamentais, como inquietação, aumento da vocalização ou impulsividade são comuns durante o proestro. Estes comportamentos podem variar entre fêmeas.
  • Instintos protectores: Algumas cadelas podem apresentar instintos protectores nesta fase, especialmente se considerarem os outros cães como potenciais ameaças. Isto pode manifestar-se em comportamento agressivo direcionado a cães desconhecidos, particularmente machos inteiros que possam mostrar interesse em acasalar e tentar a monta sem respeitar a comunicação, criando más associações a futuras aproximações de cães.
  • Diminuição do apetite e de energia: Algumas cadelas podem apresentar uma diminuição no apetite e uma diminuição nos níveis de energia nesta fase ou dias antes de entrar em proestro.


Duração:

  • O proestro dura normalmente cerca de 7 a 10 dias, embora esta duração possa variar consoante as cadelas. Serve como fase preparatória para as fases subsequentes do ciclo menstrual.




Estro


Alterações fisiológicas:

  • Recetividade ao acasalamento: Também conhecido como o "cio", é a fase do ciclo durante a qual a cadela está recetiva ao acasalamento. Começa após o proestro, quando os níveis de estrogénio atingem o pico e a progesterona começa a subir.
  • Mudanças na aparência vulvar: O inchaço da vulva que começou no proestro continua, e o tecido pode parecer mais macio e mais elástico. Esta alteração física, juntamente com a presença de feromonas, indica aos cães machos que a fêmea está pronta para acasalar.
  • Corrimento vaginal: O corrimento sanguinolento ou cor de palha observado no proestro pode diminuir ou tornar-se mais claro durante o estro. Algumas fêmeas podem ter um corrimento transparente ou mucoide. 

A ausência de hemorragia não indica necessariamente o fim do cio, uma vez que o corrimento pode variar consoante os indivíduos.


Alterações comportamentais:

  • Recetividade e "Flagging": As cadelas em estro procuram ativamente a atenção dos machos e podem apresentar um comportamento conhecido como "flagging", em que levantam a cauda para o lado para facilitar as tentativas de acasalamento. Este comportamento, combinado com vocalizações e outros sinais, indica a sua disponibilidade de acasalamento.
  • Aumento afetivo: Algumas cadelas podem tornar-se mais carinhosas nesta fase, procurando atenção e o contacto físico dos tutores ou apresentando comportamentos de nidificação (fazer o “ninho”).
  • Evitar cães machos: Embora as fêmeas estejam receptivas ao acasalamento durante o estro, elas podem ainda exibir seletividade na escolha de potenciais companheiros. Algumas fêmeas podem evitar ativamente ou resistir a tentativas de acasalamento de machos que considerem indesejáveis.
  • Guarda de recursos”: Nesta fase as cadelas podem apresentar comportamentos típicos de “guarda de recursos” em relação à comida, brinquedos ou áreas de descanso. Isto pode levar a comportamentos agressivos direcionados à aproximação de outros animais de estimação ou de pessoas na presença desses recursos de alto valor.


Duração:

  • O estro dura normalmente cerca de 5 a 9 dias, embora possa variar consoante o indivíduo. É o período de pico de fertilidade, em que a ovulação ocorre (normalmente nos primeiros dias desta fase).


No estro e proestro é essencial que os tutores tenham cuidado e supervisão, especialmente na interação com machos intactos.

Passeios mais curtos, sempre à trela e em zona mais calmas sem a presença de cães seria o ideal.



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Exemplo de "Flagging"

(photo: Whole Dog Journal )




Diestro



Alterações fisiológicas:

  • Mudanças hormonais: O diestro marca um período de repouso reprodutivo após o cio. Os níveis de estrogénio diminuem enquanto que os níveis de progesterona aumentam, preparando o útero para uma potencial gravidez ou para regressar a um estado "não grávido".
  • Fim da receptividade: A vulva regressa gradualmente ao seu tamanho e firmeza normais à medida que os níveis hormonais estabilizam.


Alterações comportamentais:

  • Diminuição do interesse nos machos: Durante o diestro, as cadelas perdem o interesse no acasalamento, evitando ou rejeitando ativamente os avanços dos cães machos. O seu comportamento torna-se menos “sedutor” e mais concentrado noutras actividades, como o descanso e relaxamento.
  • Comportamentos de nidificação: Algumas fêmeas podem apresentar comportamentos de nidificação durante o diestro, preparam um espaço confortável para uma potencial gravidez ou simplesmente procuram um local acolhedor para descansar. Este comportamento é influenciado por alterações hormonais e instintos maternais.


Duração:

  • O diestro dura normalmente cerca de 60 a 90 dias, embora a duração exacta possa variar entre cadelas. Esta fase proporciona um período de repouso e recuperação para o sistema reprodutor, permite que o corpo prepare-se para o próximo cio ou, se tiver ocorrido uma gravidez, para a gestação e parto (nascimento).


Nesta fase é essencial que os tutores prestem atenção a pequenas alterações comportamentais e fisiológicas para melhor detetarem quaisquer sinais de uma falsa gravidez e contactar posteriormente o médico veterinário assistente.

Entre outros, esses sinais podem ser: fazer um “ninho”, inchaço das glândulas mamárias ou lactação, inquietação, falta ou flutuações de apetite, distensão abdominal e choramingar.




Anestro


Alterações fisiológicas:

  • Período de repouso hormonal: O anestro é uma fase de dormência reprodutiva, caracterizada por baixos níveis de hormonas reprodutivas, como o estrogénio e a progesterona. O sistema reprodutivo entra num estado de quiescência, sem desenvolvimento folicular ovárico ativo ou ovulação.
  • Involução uterina: Após o diestro ou após o parto, se tiver ocorrido uma gravidez, o útero sofre involução, regressando ao seu estado "não grávido". Este processo envolve a redução gradual do tamanho e a contração dos músculos uterinos.


Alterações comportamentais:

  • Falta de recetividade sexual: As cadelas em anestro não estão receptivas ao acasalamento e normalmente não mostram interesse em cães machos. O seu comportamento torna-se mais neutro em termos de actividades reprodutivas.
  • Níveis estáveis de humor e energia: Com os níveis hormonais normalizados, as cadelas apresentam frequentemente níveis estáveis de humor e energia. Podem parecer alegres e relaxadas, sem a inquietação ou impulsividade por vezes observadas noutras fases do ciclo.


Duração:

  • A duração do anestro pode variar significativamente, dependendo de factores como a raça, a idade, o estado de saúde e as influências ambientais. Em geral, o anestro dura entre 6 a 8 meses.

Por exemplo, cadelas idosas têm mais probabilidade de ter um anestro mais curto do que as cadelas mais jovens, e o mesmo se aplica às cadelas que já tiveram uma ninhada em comparação com as que nunca tiveram cachorros. 

No entanto, a raça do cão tem o efeito mais significativo na duração desta fase, com as raças mais pequenas, como o Chihuahua, a terem uma fase de anestro mais curta, enquanto que as raças maiores, como o Labrador, têm uma fase de anestro mais longa.




Comportamento Agressivo


Durante o ciclo menstrual a fêmea pode apresentar comportamentos agressivos em determinadas situações, influenciado pelas flutuações hormonais, aprendizagem e contextos. Podemos observar uma tendência para:


Agressividade relacionada com “guarda de recursos": As fêmeas podem tornar-se mais territoriais durante o proestro e o estro, defendendo o seu espaço seguro ou recursos de alto valor.


Agressividade intra-espécie: Comportamentos agressivos entre cadelas, especialmente as que se encontram no estro, podem ocorrer devido à competição por recursos, atenção ou parceiros. Estes conflitos podem agravar-se se ambas as cadelas estiverem no cio e a disputar a atenção de um macho. Muito cuidado com cadelas que vivem na mesma casa.


Agressividade redirecionada: As alterações hormonais podem aumentar a excitação e influenciar o seu estado emocional, devido a estas alterações endógenas é comum observarmos comportamentos de agressividade redirecionada. Ela ocorre quando um comportamento agressivo é direcionado a uma pessoa ou cão (ou outro animal) que não é o estímulo provocativo, este tipo de comportamento está bastante relacionado com a frustração.



Para conseguirmos gerir e evitar este tipo de comportamentos nesta fase, recomendo que os tutores se foquem na:


Supervisão: Durante o proestro e o estro, as cadelas devem ser supervisionadas, especialmente quando estão no exterior ou na presença de outros cães.


Prevenção: A interação com cães machos inteiros deve ser limitada para evitar tentativas de acasalamento indesejadas e potenciais conflitos.


Socialização: A socialização adequada pode ajudar a cadela a ter um comportamento mais calmo em situações e contextos mais desafiantes.


Ao compreender e reconhecer as influências hormonais durante o ciclo e os factores que desencadeiam os comportamentos mencionados, o tutor consegue facilmente optar por medidas pró-activas para promover a segurança e o bem-estar da sua cadela, gerindo eficazmente quaisquer desafios que surjam neste período.




Cio Silencioso


Nem todas as fêmeas apresentam os sinais normais de entrar em "cio". Algumas cadelas passam pelo que é chamado de "cio silencioso", em que os sinais comportamentais e físicos típicos associados ao cio são mínimos ou ausentes.


O cio silencioso, também conhecido como subestro, é uma condição onde as fêmeas não apresentam sinais evidentes de cio, apesar de estarem no seu período fértil. Ao contrário dos ciclos regulares, onde as cadelas apresentam alterações comportamentais óbvias (descritas acima), o cio silencioso pode passar despercebido aos tutores.


Que causas podem contribuir?

Desequilíbrio hormonal, devido maioritariamente às flutuações das hormonas estrogénio e progesterona;

stress, como por exemplo, o stress ambiental, alterações na rotina, estadia em hotéis ou viagens ou a presença de animais novos em casa, podem afetar o equilíbrio hormonal e suprimir os sinais do cio; problemas de saúde, distúrbios da tiroide ou quistos nos ovários e determinados medicamentos podem interferir; e a idade, as cadelas jovens podem ter cios irregulares ou silenciosos à medida que o seu sistema reprodutivo amadurece.


Como consigo reconhecer?

Embora seja um desafio, existem determinados sinais subtis que indicam que a fêmea está a passar por um cio silencioso:

  • Ausência de comportamentos típicos
  • Pouco corrimento vaginal
  • Ausência de inchaço da vulva
  • Mudanças de comportamento



Caso o tutor opte por não esterilizar, existem implicações a ter em consideração quando temos uma cadela que apresenta esta condição.

Exames veterinários regulares podem ajudar a detetar quaisquer problemas de saúde subjacentes que possam contribuir e supervisão do tutor às alterações físicas e comportamentais, mesmo que a fêmea não apresente sinais típicos do cio.


Reconhecer a influência hormonal e as alterações comportamentais associadas às mesmas é fundamental para melhor desenvolver um plano de modificação comportamental eficaz, além de promover o bem estar geral e a relação cão - tutor.





Guarda este artigo para futura consulta caso surja alguma dúvida sobre as alterações comportamentais da tua cadela!